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Tergrinar

Estou pensando em mudar, a vida, o foco, as intenções. Uma mochila na costas, um amor no coração e partir. Não quero lugar pra ir, simplesmente andar, ver o mundo que tem ai fora, uma cama simples pra dormir, deita sob colcha de retalhos, usar roupas de um tear. Ouvir música de viola, sem eletricidade, sem excentricidade, coisa simples. Bater um tambor artesanal e cantar, sem me preocupar em me afinar. Beber chá de folha de laranjeira, de repente da folha verde de canela, , colher jaboticabas, catar um carinho de gente simples. Poder pagar tudo com um pouco de trabalho, quem sabe um carpidar, as ave alimentar, dibulhando milho no meio de um esvoaçar. Quero postar de joelhos e rezar com muita fé, um Pai Nosso e uma Ave Maria antes de dormir e ao acordar, continuar crendo nos meus santos, nas imagens de barro, simples e bem pintadas, colocadas nos altares da vida. Tomar banho de córrego em dias quentes, com sabonete de lavanda, escovar os dentes na bica, comer em prato esmaltados, ajudar os cutinhos sair dos ovos em seus nascimentos. Preciso ver a vida, sementes brotando na horta, colher as folhas das hortaliças. Não quero ter ambição, eu mesmo assando o meu pão nesses fornos de quintais, todos construídos a mão. Que bom será ouvir contos de fantasmas, me deliciar com o cheiro do campo, me encantar com a florada dos ipês, quaresmeiras, catar gabirobas com as minhas saudades. Meus Deus, se eu pudesse pedir e ser atendido, queria meu povo de volta, aqueles que partiram sem eu deixar, que hoje fazem falta. Ah, queria voltar lá no tempo, pra ver tudo de novo e depois voltar pra cá feliz, com hora marcada para outros visitares. Mas nós somos assim, como água de rio descendo para o mar, somos doce, até a vida nos salgar. Mas pra compensar depois no eleva de novo num evaporar, transformados em chuva, com água sempre doce, pra retornar, e nossas vidas com água limpa batizar, bastando só aproveitar. Passei aqui nessa escrita, nesse meu escrevinhar, só pra ter um tempinho para saudadear, falar dos meu planos e de um passado que não irá voltar, mas o que é bom recordar. O que eu quero é me realizar, se não num sítio, quero mudar pra um lugar, que seja aconchegante, uma casa pequenina, que tenha telhado de barro pra ouvir melhor a chuva quando nas telhas cair, uma varanda pra refrescar, galinhas no quintal, pássaros pretos pra cantar, também o sabiá, os canários da terra, beija flores e tucanos, pombas em bandos, gente amiga e a parentalha pra me visitar, tomar café com queijo, pão de queijo e doce de mamão verde ao acordar. Ah, meu Deus, toma ai minha vida, faça o que Lhe aprouver, estarei feliz da forma que vier, com o que me der. Mas não me faça deixar de sonhar, pois se assim o fizer, sei que decidiu me levar, ai eu vou no céu morar, esse sim, será o melhor lugar.

Texto: José Airton de Oliveira