Comprovadamente o animal adapta-se ao meio. Assim tem acontecido comigo, estou lidando bem com o abandono e até gostando dele. Venho mantendo um relacionamento muito estreito com a solidão e gostado. Momentos sós tem me levado às reflexões, quando faço voltas constantes ao passado, com possibilidade e tempo de refletir o que fiz da minha vida. As perdas e ganhos não tenho uma medida exata, se somei mais um do que outro, mas no cômputo geral, tive muita positividade. Perdi muita coisa para intolerância, inconsequência, ingratidão e até desconfiança. Fui vítima de muitas mentiras, injustiças e até covardia, mas são coisas do dia a dia. Tenho tido um entendimento muito legal, descobri que o amor, esse do desejo, pode ser unilateral, que de repente havendo a correspondência, aquela que encanta os olhos da gente, poderá haver uma locumpletacão, mas isso não irá tirar minha capacidade de fazer poesia. Então eu sigo na minha euforia das solidões momentâneas, na minha heremitalizacão. Lá vou, carregando minhas incertezas, em grandes gaiolas e adestrando-as com o aprendizado e o meu amadurecimento. Tenho me tornado mais cético e também ponderado, não me iludo tanto mais. As minhas necessidades são poucas e baratas, quase sem custo algum, assim estou somando experiências, sustos, saudades, paixões e decepções. Quanto às alegrias tenho aproveitado-as nas iminências. Ah, os sonhos, teimo em realizá-los e estou juntando fatos, vontades e experiências pra isso. Concluo que apesar de algumas dores e dissabores, num balanço geral, esquecendo algumas perdas evitáveis, tudo tem corrido bem. Isso me convém, só fica faltando o beijo de alguém.
Texto de Jose Airton de Oliveira