Estudo é desenvolvido pela Odontologia em parceria com ambulatório Craist
Diélen Borges
Será traçado perfil epidemiológico geral e de saúde bucal de mais de 400
pacientes (Foto: Marco Cavalcanti)
A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é referência nacional no
atendimento a pacientes transgêneros e isso atraiu o cientista Sérgio
Ferreira Júnior a desenvolver aqui sua pesquisa de pós-doutorado, que vai
traçar o perfil epidemiológico geral e de saúde bucal desses pacientes.
O projeto é vinculado ao Programa de Pós-graduação em Odontologia e
supervisionado pelo professor Adriano Loyola. Serão avaliados cerca de 400
pacientes atendidos pelo Centro de Referência Atenção Integral à Saúde
Transespecífica (Craist) do Hospital de Clínicas de Uberlândia (HCU/UFU),
além de outros atendidos pelo ambulatório municipal.
Ao longo de 2018 foram promovidos sete encontros para debater temas
relacionados à saúde transespecífica, mais especificamente as infecções
sexualmente transmissíveis. Em novembro, os pesquisadores organizaram uma
*campanha de testagem
http://comunica.ufu.br/noticia/2018/11/campanha-oferece-testes-de-hiv-e-…
de HIV, sífilis e hepatites virais, em parceria com o Ambulatório Herbert
de Souza, que atendeu a 534 pessoas.
Mas o estudo promete ir além. “A gente vai aplicar um questionário que
vai abordar histórico dos antecedentes de saúde, saúde bucal, processos de
transição de gênero, informações sociodemográficas e experiências de
preconceito e discriminação nas escolas, banheiros, relação com
autoridades policiais, questões de violência e bullying. É uma pesquisa
muito ampla”, explica Ferreira.
Há também uma parte qualitativa da pesquisa que abordará a percepção dos
transgêneros sobre a saúde bucal e dos profissionais de odontologia e outra
que abordará a percepção dos alunos da Faculdade de Odontologia em
relação aos transgêneros. O questionário foi submetido ao *Comitê de
Ética em Pesquisas com Seres Humanos http://www.comissoes.propp.ufu.br/CEP*
e aguarda validação. A aplicação está prevista para começar em março.
“O questionário é norte-americano, foi utilizado numa grande pesquisa que
envolveu todos os estados dos Estados Unidos, e consideramos muito importante
validar no Brasil justamente porque nós não temos aqui, validado, nenhum
outro instrumento para pesquisa com transgêneros”, completa o pesquisador.
Ferreira é graduado em Odontologia, mestre em Saúde Coletiva e doutor em
Ciências.
*Odontologia e transgêneros*
A pesquisa inédita com pessoas trans observará aspectos da saúde geral,
mas é vinculada à Faculdade de Odontologia da UFU. Há especificidades da
saúde bucal desse público? Segundo os pesquisadores, os estudos nessa área
são raros e, por isso, não há muitos dados, mas eles partem de hipóteses
que consideram as alterações hormonais e a exposição a cosméticos como
influenciadores da saúde odontológica.
Um exemplo é o hormônio estrogênio, utilizado na transição do sexo
biológico masculino para o gênero feminino. Segundo Loyola, uma maior
quantidade desse hormônio no organismo, como ocorre na gravidez, por
exemplo, aumenta o risco de doenças periodontais. Isso acontece também com
as mulheres trans? A pesquisa tentará responder.
Professor Adriano Loyola (esquerda) supervisiona a pesquisa de pós-doutorado
de Sérgio Ferreira Júnior (direita) (Foto: Milton Santos)
O professor Loyola, que atua na UFU desde 1988, acolheu a proposta de
Ferreira por considerar que faltam estudos sobre a saúde da população
trans e sobre doenças sexualmente transmissíveis na sua área de atuação.
“Durante o advento da aids, nas décadas de 80 e 90, a vivência nossa na
Odontologia foi muito limitada. O que se fazia era atender as pessoas que
eventualmente chegavam com determinado diagnóstico ou com uma possibilidade
de diagnóstico, mas você não teve em cima disso nenhum atendimento
sistemático com vistas a orientar a percepção do problema: quais são
esses pacientes, quais são os fatores de risco mais importantes”, recorda.
“Nós pensamos o seguinte: a saúde bucal e a saúde geral do paciente eram
os dois alvos principais do projeto, mas a gente achava que seria muito
interessante se conjugasse isso com intervenções periódicas na comunidade
e até fora da comunidade para discutir o assunto”, explica. Daí nasceu a
parceria com o ambulatório Craist.
O professor aponta ainda a importância da ciência para combater a
discriminação. “O desconhecimento gera preconceito e gera um afastamento
muitas vezes permeado por uma violência, quer seja verbal, quer seja
física. Esse projeto cria mais uma janela para abrir possibilidades para que
a população conheça quem são essas pessoas, quais são as suas
necessidades”, finaliza.
A pesquisa deve ser concluída no fim de 2019. Acompanhe o Comunica UFU para
conhecer os resultados.
FONTE: Comunica UFU