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SOBRE VIVÊNCIA

Autoria: José Airton de Oliveira.

De repente acordo dos meus sonhos, alguns bisonhos, então pesadelos que estão esparramados pelos elos perdidos da minha imaginação. Mesmo já adulto, nos longos anos da minha vida, já tendo participado da geração de seres que descendem de mim, os filhos, eles também já tendo parido e estando cuidando da prole deles, que hoje são meus netos, eu tenho vários sonhos, como se ainda fosse criança. Eu planejo e não subestimo minhas forças, desafio o tempo e vivo com vitalidade para ser feliz. Os deixados para trás, são momentos que ficaram como saudades, realidades e até fantasias, que às vezes ressucitam nas minhas lembranças. Lastimo as perdas, são gentes e coisas deixadas espalhadas pelo tempo, talvez lá eu tenha abandonado quantidades enormes de felicidades. Hoje, nessa minha idade, não lastimo muita coisa, carrego a convicção de não ter ambição, essa derivada ganância que embrutece o ser humano e faz mal. Brota do insano ímpeto pela riqueza a qualquer custo. Estou agora me dessacrificando, enquanto alguns constroem sofisticados castelos, estou tentado pela simplicidade do ser feliz. Basta-me muito pouco, senão o pão, quando for possível o vinho, mas sem ter que me embriagar. Com relação ao dinheiro apenas o necessário para que eu possa cumprir com minhas responsabilidades sociais, pagar os impostos para satisfação dos gananciosos homens públicos, os inimputáveis que se locumpletam com sacrifício alheio. Sou devoto e temente a Deus, hoje plagio as palavras de Jesus, “dou a Cézar o que é de Cézar”, o dinheiro que tanta provoca malefícios para a existência humana. Tenho tudo que preciso e me é dado com tantas graças, principalmente o amor, que não são de todos, mas o bastante para eu galgar minha expectativa de felicidades. Tenho todas as certezas, sei o peso da minha cruz e que nunca será além do que eu possa carregar, é assim que tem sido. Sobrecarregado pelas dúvidas, dono de muitos defeitos, venho iniciando somente agora o meu aprendizado, apesar de estar tanto tempo vivo. Estou descobrindo que apesar da vida intensa, adquiri conhecimentos e mesmo assim do passado trago pouco experiência. Quando reviro meus guardados, deparo-me com uma grande quantidade de egoísmo, desinteresse pelo alheio, só não ambicionei o que é dos outros, muito menos riqueza, com toda minha franqueza, dou graças por isso. Percebi minhas incoerências, as avarezas, faltas de destrezas e tenho lutado para ser gente, pois tenho percebido que na verdade sempre fui mais sonho do que feijão. Estou na minha caminhada pela literatura, tenho me esforçado para fazer poesia, tenho rabiscado no meu dia a dia. Estou tentando pintar corpos, colorir almas, tenho tintas para tatuar felicidades, falta-me a praticidade. Recebi essas minhas dádivas dos céus e meus anjos foram cumplices disso. Quando fiz e se faço amor sacio a minha e a carência de quem compartilha comigo essa ato de prazer, pois consigo fazer-nos encontrar o esperado, a felicidade de poder ser. Agora, tão pequeno, ainda me esforço para aprender a ser gente, ter decência, coerência, cumprir minha missão humana, mesmo que desumanamente não seja fácil, mas nada existe sem muito esforço. Já aprendi o perdão, mas ainda não consegui perdoar todos. Tenho fé, acredito que essa seja o caminho para viver intensamente até a minha determinada eternidade, que de repente chega e entra sem que seja convidada. Mas é assim, vou continuar firme nesse meu propósito de catar alegrias por aí.