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EU ME VI

Por José Airton de Oliveira.

Quando me vi no espelho, descobri que há muito eu não me encontrava. Estava caminhando como se não tivesse sombra, solitário de mim. O engraçado é que eu estava sabendo que todos os dias eu poderia me encontrar e não fazia. Vagava de alma vazia, logicamente por estar ignorando a minha própria existência. Tirei um tempo para me ver, mesmo que fosse apenas o reflexo. Quando pude me perceber, não estranhei a idade, a barba por fazer, pois sabia que eu teria deixado crescer, e também tinha a certeza de quantos aniversários eu já passei. Eu nunca guardei arrependimentos, quanto aos ressentimentos eu mantive alguns. Pude constatar que apesar de muitos conviverem comigo, ainda não me conhecem, fiquei pasmo, pois descobri que nem eu me sei bem. A pressão do dia a dia vem me tirando o sorriso, deve ser a ausência de alguns sentimentos básicos que impulsionam a vida, a minha. Infelizmente tento me desfazer ao máximo da necessidade da vida material, não consigo. Não que eu esteja ganancioso, mas sinto medo de me faltar o básico, tanto quanto para os que dependem de mim. Sou assim, quase sem fim, mas sei que chegará um momento que para meu tormento não vou mais existir, ou talvez não me perceberão mais. Foquei nos meus cabelos que não são mais os mesmos de antes, minha barba parcialmente branca, bem mais volumosa e comprida. Hoje sou mais velho, mas contrastando com toda essa minha condição atual, consigo manter o libido, uma força incalculável para lutar, capaz de enfrentar e encarar muitas dores, que poucos suportariam. Ganhei experiência, mas não perdi a dependência, tenho muitas carências, também de amor. Sou de luta, labuta, quase não tenho medo, durmo pouco, acordo muito cedo, não tenho nem um sonho, muito menos pesadelos, durante o sono. Estou replanejando minha vida, quando tento entender essa proposta não vejo mudanças substanciais, ou até nenhuma, estou ciente que o tempo que tiver, terá ou tive, a minha vida seria a mesma, amaria muito, sendo compassivo, às vezes indeciso, sem medos, nem muitos segredos. Tenho deixado um grande espaço para poesia, aí nesse quesito gostaria de ser melhor, saber realmente escrever. De repente deixei o espelho, olhei para o lado e me vi, sorri e saí, fui para um lugar qualquer. Entre na minha mente, lembrei de um reggae, agora que ele me carregue e me leve por ai. Ai eu vou!