ZE
As vezes perguntam quem eu sou,
Imaginando que posso faltar com a verdade,
Mas não, não tenho que esconder sinceridade,
Sou apenas mais um Zé, que se chama José,
Para alguns sou mané, pra outros ninguém,
Sou como canta o poeta, daqui debaixo, sou do povo,
Mais um que luta pelos direitos e cumpre seus deveres,
Apesar de gente simples, filho de trabalhador,
Me formei na faculdade mas nunca fui doutor,
Estudei, bacharel bem preparado, mas nunca fiz doutorado,
Também não me chamem de mestre, eu nunca fiz mestrado.
No caso do tratamento, pode usar o pronome Senhor,
Isso é se quiser, se me chamar de você, dou muito mais valor.
Nessa vida fiz de tudo, quebrei parede, cobrei, fui professor,
Gosto de desenhar, moldar e falar de amor,
Escrevo algumas rimas, conto histórias só não sou escritor,
Já joguei capoeira, ficaram algumas gingas e toco berimbau,
Não sou inexato, nunca fui insensato, sou Uberlandense nato,
Mas todo o meu povo veio de lá, das terras de Araxá.
Apesar de estar cansado, muito tempo viajado,
Pude ver o Brasil de cabo a rabo e com muita gente falar,
Sotaques, manias e maneiras pude adotar,
Pois tudo que encontrei de bom eu trouxe pra somar.
Não tenho muito pra contar, quase nada pra falar,
Sou pouco conhecido, amigo de poucos amigos,
Com quem gosto de falar e prosear, às vezes bebericar,
Gosto muito reggae, da música de viola e da simplicidade,
Prefiro morar no mato,lugar escondido, distante da cidade,
Poder cuidar das bichos que não lhe cobram explicação,
Basta um pouco de comida, água limpa e pouca atenção,
Você terá na sua vida amigos do coração,
Então eu quero ser bicho e não mexer com gente mais não,
Vou ser mais valorizado, querido e amado sem dar satisfação.
Meu prenome é José, Airton meu nome, Olivera sobrenome,
A mãe é Maria, o meu pai é Nenén, um dos Sebastiãos,
Neto de Leta e Chico, Lazinho e Aurora, tenho dois irmãos,
Sou descente de Santos e Rodrigues, Clemente e Oliveira,
Todos são parentes como farinha do mesmo saco,
Sempre foi povo da roça que mudaram pra cidade,
Trouxeram cansaço e batalha no alforge e também felicidade
Texto de José Airton de Oliveira