Eh vai passando o tempo e parece que tudo anda mais rápido do que foi o passado. Existiu uma época em que a vida parecia seguir menos intensa, tínhamos mais tempo para o amor. Lembro-me que aproveitávamos mais os finais de semana, o tempo era próprio para comermos as quitandas da vovó, ganhar aquela roupa nova pra uma festa de aniversário, as idas às quermesses. Existia uma cronologia pra se amadurecer na proporção da idade da gente. As coisas mudaram tanto que as vovós de hoje na sua maioria são novas, bonitas, perderam as gordurinhas, os óculos e os quilos, vivem a plenitude da modernidade, da era do rejuvenescimento. Hoje até marcam seus casamentos para comemorarem junto com os dos netos, sem exageros. Temos lindas mães dividindo os bons momentos das baladas com filhas e filhos. Não necessariamente, mas é também um dos motivos, os filhos dos filhos vão nascendo mais cedo logicamente todos estão mais focados no cuidar da beleza e saúde com mais dedicação. A expectativa de vida aumentou, as pessoas estão vivendo mais que antes. Isso vem despertando a ganância dos governantes já está projetando uma mudança na Lei da Previdência, em breve com menos de cem anos somente políticos aposentarão com oito anos de mandato. O que mais surpreende é que a evolução vem correndo em passos muito rápidos. Logicamente as crianças atuais entendem mais sobre a vida, manifestam suas vontades e emitem suas opiniões com muito mais fundamentação. A maioria delas manipulam equipamentos de última geração sem nenhuma timidez e sem saber ler, incrivelmente acontece isso. Hoje sento com meu neto de seis anos e ele debate comigo suas prioridades, até fala de amores e paixões. Deixaram de ser aqueles garotos envergonhados que eram proibidos de entrar ou dar palpite no assunto dos adultos e declaram suas vontades e seus fascínios. Acredito que a atualidade dá mais oportunidades. Deixaram de justificarem seus arrependimentos por faltas de oportunidades, porque elas existem, passaram a ter mais inclusão. Não posso deixar de lamentar e sentir saudades do passado bom, sabendo que tem muito que se comemorar do presente, será essa a máxima do futuro também, apesar de se enxergar que lamentos sempre existirão. Ainda sinto saudade do dançar a dois, bem agarradinho em dias de festas. Contesto a moda do baile onde garotos rebolam em rodas separadas das rodas das garotas. Gosta daquelas brincadeiras dançantes que ocorriam pela cidade e as famílias mantinham as portas abertas e permitiam os bicões. Ah, que coisa boa às reuniões onde dançávamos todos com todos e usávamos a brincadeira do lenço. Eram duas emoções de alegria ao colocá-lo na pessoa que queríamos e um porre danado quando colocavam no ombro do que não queria. Mas venhamos e convenhamos, era uma época de menos violência, de menos incoerências. Se me perguntarem se quero que o tempo volte, talvez não, mas não concordo em ter perdido tanto. Que tal uma viagem ao túnel do tempo, deixei pra trás umas oportunidades, que se voltasse lá eu não perderia. Mas eu gostaria de ir e voltar pra cá, justamente pra esse tempo, pois o que eu quero já está aqui também. Como não ser feliz com a realidade, a atualidade desse presente que me faz real?
Texto de José Airton