Vinha passando pela minha rotina diária do igual todo dia, que me satisfaz, quando vago e divago sozinho nas minhas frustrações, lembranças e saudades, pela falta que muitos me fazem, daqueles, que conforme lamentos do poeta Boldrim, “foram embora antes do combinado”, então hoje me questionei. Não consegui me responder. Nao consegui justificar-me porque nós humanos mantemos tantas pessoas mortas dentro da gente e lamentamos tanto quando elas morrem! Porque somos afeitos a abandonar os vivos e chorar suas idas, quando nem ao menos compartilhamos com suas dores quando temos a possibilidade disso? Quando da velação, ali deitados em leito de morte, muitos são afeitos a contar as histórias do morto em vida, sem lembrar que pouco participaram dela. Por que a saudade, se não tivemos o zelo de compartilhar a culpabilidade? Meus Deus, que ser sou eu, que componho esse seleto grupo de pessoas, sendo individuo dessa classe animal, que Deus com toda sua sabedoria deu a consciência e que optou pela inconsequência? Tenho tentado juntar os meus, não quero mais perdê-los, preciso provar um bocadinho mais de tudo é de cada um, quero ainda dar uma abraço em todos eles, sabendo que seus, que são nossos, descendentes, estão embrenhando pelo futuro adentro e assumindo suas missões. Quero estar com as minhas pessoas, não somente receber noticias dos meus vivos e chorar quando eles morrerem, lamentando uma partida que tinha acontecido há muito tempo antes. Quando meu último ente querido partiu, Francisco, dei pra ele um poema, mas ele e eu não tinhamos nos enterrado em vida, haviamos compartilhado muita coisa, principalmente a amizade e ele me lia todos os dias, além disso manifestava-se em cada escrita minha. Fomos amigos, fomos primos, seres sociais e ele me faz falta de verdade, porque esteve comigo em muito dos todos meus bons momentos. Um dia relatei que gosto de girassóis, particularidade que não é minha, um gosto muito comum, mas eu tenho a minha razao, é uma planta que me encanta pela sua socialização e solidariedade, como deveria ser a raça humana. Mas esse é meu lamento, quero comigo os meus, os que me querem, os que me admiram, porque os admiro também. Quero vida, a chegada e não a partida. Posso até suportar a dor, mas não quero a ferida, o amor, num abraço o calor, do gostar o louvor, quero a cor, o louvor. O que eu não quero é mais funeral de vivos.
TEXTO DE: José Airton de Oliveira