Teve um tempo, já fazem muitos dias, anos, passagens, saudades que tudo foi mais simples lá pra bandas dos tempos de criança. Lembro-me bem das palhadas de arroz esparramadas pelos terrenos vagos, onde criávamos nossas arenas de brincar, circos de sonhar. Eram ali nossos espaços de lazeres. Nesse tempo não estavam na moda os famosos vídeos games, celulares e outros tantos inventos da informática. Telefones na época eram utilitários, os aparelhos móveis não existiam, fora das casas somente os orelhões para uso dos que se moviam,indo até os pontos de instalações do equipmento. Diante das poucas opções, brinquedos eram presenteados em épocas de natal, então tudo era improvisação. Para o futebol até as bolas de meias. Carrinhos de fricção e pilhas eram propagendas de televisão. Nós ainda meninos encotrávamos nossos momentos na criatividade, fabricávamos nossos próprios brinquedos. Quantos filtros de óleos viraram roletes, os arcos para tocarmos retentores, voltas dentro de pneus e tambores, riscos sem temores. Quantas árvores escaladas, frutas colhidas e até furtadas. Porque colher frutos nas casas dos outros nem era assim tão grave, sempre sobravam. Nossos campos de futebol nós mesmos capinávamos, descalsos corríamos pela terra vermelha, que nos adicionava ao pó. Perguntado se tinha coca cola, só nos finais de semana, quando o dia era de macarronada. Aos da carne o frango caipira que era vítima inevitável dos que os consumiam sem maldade, mas por necessidade, nada quase industrializado. O leite tirado de vacas em sítios próximos e vendidos em litros de torneiras de galões. O pão, comprava-se em botecos ou padeiros que faziam a correria pela noite, nas madrugadas frias e escuras da época com pouca iluminação. Mas tudo era felicidade, as disputas nas bolinhas de gudes faziam nossos momentos de maior disputa, onde as habilidades premiavam com cada vez maior quantidade de peças de vidros encantadas. Quantas foram as vezes que reclamei por bolinhas quebradas e quebrei, jogos ganhados que perdi, quantas vezes vibrei. Abençoados e cuidados pelo poder de Deus, enfrentávamos os perigos e vezes éramos vítimas de vespas e maribondos, abelhas e aranhas e outros que nem se aproximavam , sabiam que éramos um todo, parte da natureza. Foi assim a vida, as dificuldades foram apenas pequenos obstáculos superados, crescemos em meio a todos nossos primos e primas, pessoas lindas, meninos e meninas. Tinha aquele moleque que gostava daquela menina, a amiga, prima, primeiro fervor, calor, querer, amor. Assim foi o tempo que passou, das calças curtas aos sonhos passados, encontro com a verdade sem pesadelos maculados. Pudemos ser infantos, encantos e acreditamos nos sonhos. Quantas vezes fui milionário, tive gado e fazenda, fui quase dono do sítio do Pica Pau Amarelo, bati papo com Pato Donald, sacaneei Bafo da Onça, tentei avisar os Três Porquinhos dos riscos com Lobo Mal. E pensar que foi tudo muito sentido, nada disso esquecido. Quantas vezes com sede fui no Tororó encontrar a menina que lá deixei, saindo de mãos abanando porque não a encontrei, então nas minhas cirandas, essas da vida, eu cresci, mas nunca minha infância esqueci.
TEXTO DE: José Airton de Oliveira