Então, quanto vale a felicidade? Para o meu neto, dia desses comigo no supermercado, somente vinte cinco centavos. Esse era o valor que tinha no bolsinho da bermuda e que entregou no caixa para pagar as compras que tínhamos realizado. Claro que aquilo valeu muito mais que meu cartão de crédito com limite que me era autorizado a gastar. A atendente se comoveu porque quando ele entregou-lhe a sua rica moeda de vinte e cinco, disse que era para cobrar os doces que ele tinha escolhido. A comoção foi minha também com a atitude daquele que pra mim ainda é um bebê. Contei que eu quem pagaria e pedi pra que ele guardasse o dinheiro. Ele negou, eu insisti, prometendo que lhe compraria um cofre, onde ele pudesse guardar muito mais moedas. Convencido e satisfeito, dando detalhes de como seria o cofrinho que iria querer, saímos do supermercado. Ele me questionou porque eu não quisera pegar o dinheiro. Insisti novamente no assunto sobre o cofrinho, insinuando que juntando valores, todos os trocados que ele tivesse, no futuro ele poderia comprar uma loja inteira de chocolates. Satisfeito com a explicação e já com jeito empreendedor, garantiu-me que não mais compraria chocolates com o dinheiro dele, só o faria com o meu. Expliquei-lhe mais uma vez sobre a necessidade de economizar, contei ainda que o meu dinheiro também era dele. Então me surpreendeu mais uma vez afirmando que afirmando que não iria mais comprar tantos doces. Questionei se ele estava pensando na compra da lojas de doces, afirmou que sim, mas que iria comprar também uma fazenda com muitos bichos. Entreguei-lhe o sonho quando afirmei que seria assim e o vi sorrir orgulhoso. Logo me pediu solícito que o carregasse para o carro, porque naquela hora tinha decidido que era um saco de arroz, por isso nem falava e nem andava. Foi a desculpa que eu o carregasse e o colasse no banco de trás. Aquele momento, os instantes de supermercado com aquele garotinho, me valeram a felicidade pra mais de muito tempo, dos muitos que eu já possa ter vivido sem ele. Li uma vez, sei que foi escrito por uma autora bem conhecida, acredito que Cora Coralina, num dos seus poemas, quando na sua narração falava sobre retalhos, na formação de uma bela colcha, fazendo referências às pessoas da vida dela. Eu assimilei que tudo seja bem desse jeito mesmo, a gente tem que juntar pedaços, separar os trapos e usar os pedaços bons, descartando os ruins, porque não existe forma de evita-los, pois todos fazem parte de nossas vidas. Estou tentando isso, separar tudo em balaios diferente, em um deles colocarei aqueles que são atitudes boas, noutro, tudo que mais me desagrada, a dissimulação, as mentiras, a intolerância, a incompreensão e a inconsequência. Por que será que nós “humanos” não nos contentamos com a felicidade, não encontramos o espaço adequado para usufruir o tempo e concretizar nossas boas ambições? Por que nos frustramos conscientes com nossas ansiedades? Difícil entender, mas é a realidade humana. Com certeza, diante das intempéries da vida, eu gostaria de possuir apenas algumas moedas, como aqueles vinte cinco centavos do meu neto. Que o mundo fosse conforme ele enxerga, barato, acessível, inocente, sem maldades, destituído do orgulho torpe dos desumanos atos do ser inconsciente. É a vida, vou seguir por essa estrada, na esperança da verdade e dos verdadeiros, dos corajosos que encaram e enfrentam o amor de frente, porque querem a felicidade e sabem que não se realizarão sem ela. Outras vezes vou carregar comigo a inocência de uma criança, para poder sorrir quando sorrirem pra mim, sentir-me inibido, quase que envergonhado, inocentemente tímido, diante de um elogio, pra só depois responder ao questionamento do admirador. Assim, conforme cantaram os poetas, vou levando a vida, devagarzinho, deixando ela me levar por esses muitos e surpreendentes anos por mim vividos, que parecem dez mil, mas agora bem melhores, pois aprendi e comecei a ouvir as crianças. Decidi, vou plantar um girassol!
Texto de José Airton de Oliveira.