Fundamentada pelo consultor e sanitarista mineiro, metodologia integra o Qualifica SaUDI, minimizando complicações e fortalecendo rotina saudável de pacientes crônicos
Diagnosticado com diabetes tipo 2, há cinco anos Ruy Borges da Silva realiza o acompanhamento da doença crônica na Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) do Santa Luzia. Agora, o cuidado conferido a ele e outros pacientes em situações similares será ainda mais especial, já que as consultas especializadas serão realizadas de uma única vez. A ação, estabelecida por um programa inovador desenvolvido em Uberlândia, permite que os médicos atuem conjuntamente e estabeleçam metas para que a equipe da unidade de referência do paciente possa desenvolver atividades que confiram mais saúde e qualidade de vida.
Ruy notou a diferença: na porta do consultório havia o nome dele, indicando que ali aconteceriam as consultas com um clínico geral, endocrinologista, oftalmologista e cardiologista. Uma novidade para o pintor, de 49 anos. “Achei muito prático. Assim não preciso agendar várias consultas para ter um acompanhamento especializado. É mais praticidade e agilidade, em um trabalho interdisciplinar bem bacana. Em um único dia tive atendimento de vários médicos que podem ajudar a controlar a minha diabetes. Agora é acompanhar e seguir com o meu plano de autocuidado proposto pela equipe”, contou.
A metodologia da atenção contínua e o autocuidado apoiado é fundamentada por Eugênio Vilaça Mendes. O professor e sanitarista é referência no Brasil e esteve em Uberlândia nesta terça-feira (9) para ver de perto o projeto desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Qualifica SaUDI. O projeto é piloto e está sendo testado nas 21 unidades do setor sul da cidade (além do ambulatório da UAI São Jorge).
Autor de livros que tratam da necessidade de promover mudanças nos modelos de atenção à saúde, de gestão e de financiamento do sistema, Vilaça acredita que a iniciativa desenvolvida pela Prefeitura Municipal está no caminho certo, fortalecendo e promovendo ainda mais o cuidado junto à comunidade.
“Esse é um trabalho importante porque, não adianta o paciente apenas se medicar, ele precisa saber que tem que cuidar dele mesmo por meio de hábitos saudáveis. Do contrário, não apresentará melhora. Uberlândia inovou a metodologia ao colocar os médicos alternando as consultas e não o paciente indo atrás deles de um lugar a outro. Assim são os profissionais que vão até eles. Acredito que a equipe está dominando como ampliar esse cuidado, com um modelo ainda mais virtuoso”, comentou.
Foco no paciente
O acompanhamento é feito a partir de uma estratificação de risco no setor, que permite um acesso ainda mais democrático daqueles que estão em situação de alto risco e requerem uma atenção maior. Durante a consulta multidisciplinar que acontece na UAI São Jorge, o paciente fica dentro do consultório e quem entra na sala são os médicos especialistas, além da equipe atenção primária (médico da família e enfermeira) da qual o paciente é referenciado.
Depois de passar pela análise dos profissionais, o paciente segue monitorado em sua unidade de referência, pertinho de casa. Um trabalho, segundo a enfermeira e coordenadora do setor sul, Melyne Serralha, que garante uma atenção especial aos pacientes crônicos
“O cuidado é todo voltado para a situação de cada paciente, focando no autocuidado para controlar a hemoglobina glicada, que é o indicador da taxa de açúcar no sangue, por exemplo. Ao final da primeira consulta com os mais variados especialistas, o paciente fará um compromisso com a equipe médica para retorno em um prazo de três meses, englobando o cuidado com medicação e hábitos saudáveis a fim de apresentar melhores condições”, explicou.
Além da visita do sanitarista Eugênio Vilaça, o presidente do Conselho Municipal de Saúde, José Veridiano de Oliveira, também esteve na UAI São Jorge para conhecer o trabalho que considerou algo essencial para a organização da rede. “É uma ferramenta importante para a comunidade, principalmente aos pacientes crônicos que precisam de um olhar mais próximo e com a atenção centrada. Um fato interessante que percebo é a ampliação da confiança, por meio do compromisso entre paciente e médico, que eles desenvolvem. E isso facilita a busca em melhores resultados”, comentou.
Vida mais saudável
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a cada 1% diminuído da hemoglobina glicada, é possível reduzir em 37% as complicações microvasculares, além de diminuir em até 21% o risco de morte e em 14% a incidência de infarto agudo do miocárdio.
E desde que entrou para o grupo de apoio, o motorista Marcos Machado reduziu a taxa de 13% para 7%, passando do quadro de muito alto risco para baixo. “Tive problemas de pressão, dores no corpo, e não costumava freqüentar o médico. Foi então que conheci o projeto da Prefeitura, na UBSF do bairro Santa Luzia, e mudei meus hábitos. Tudo isso transformou minha vida. No auge da crise do diabetes, que nem sabia que tinha, sentia como se não passasse de mais uma semana, e aos poucos fui recuperando minha saúde. Acredito que 90% dessa mudança foi na atividade física e na alimentação adequada”, afirmou Marcos.
Fonte: SECOM PMU